Friday, May 25, 2007

DESCUBRA AS DIFERENÇAS

21 de Janeiro de 2007: o dia em parti de Portugal para vir para aqui. Com o coração despedaçado, muito despedaçado, por causa de todas as despedidas que tive de fazer nos dias anteriores à partida...e sobretudo por causa da despedida no aeroporto: cortar o cordão umbilical que me prende aos meus pais, Gui e Miguel, e ir sozinha para outro continente, para um sítio onde ninguém estaria à minha espera...

Momentos de pânico?
Tive três...e só os posso contar agora porque se os tivesse contado em directo os meus pais batiam-me! :P

Aqui vão as histórias que nunca foram contadas da minha "odisseia em boston",

O primeiro momento de pânico foi quando cheguei a Washington, já de noite, sem malas (perdidas!!!felizmente lá foram ter a Boston no dia seguinte)), e com a viagem para Boston cancelada por causa de uma tempestade de neve. Não conhecia ninguém em Boston, mas sempre tinha uma casa onde ficar. E aqui? No aeroporto deram-me um passe com um desconto para uma série de hotéis, mas não me explicaram mais nada. Saí do aeroporto, sem saber ainda muito bem o que ia fazer...e de repente olhei para a minha própria situação e percebi que estava sozinha, à noite, no meio de uma tempestade de neve, numa espécie de Central de Camionagem, noutro continente, sem telemóvel, mas também sem ninguém que pudesse contactar para me ajudar! Confesso que me senti completamente perdida...na zona onde estava não havia taxis, talvez pela hora ou por ter saído na zona errada...nem pessoas, portanto não havia a quem pedir informações. De repente passa uma carrinha que diz "Hotel...", nem pensei duas vezes, mandei-a parar e entrei. Era um hotel caríssimo, passei a noite numa espécie de suite. :P Naquela altura só pensei em sair dali, queria lá saber se ia para um hotel de luxo ou para uma pensão! Vá lá que sempre tinha o passe de desconto, senão os meus pais matavam-me... :P

Segundo momento de pânico: na noite em que cheguei a Boston, conheci a minha roommate, a Emma, que me convidou imediatamente para ir sair com ela e os amigos. Claro que aceitei, tal como hoje continuo a aceitar todos os convites que a minha querida roommate me faz! Fomos para um bar aqui perto de casa, os amigos dela eram muito simpáticos, comecei em animada cavaqueira com alguns, entretanto a Emma desapareceu e não me apareci que tinha ficado combinado que nos encontrávamos noutro bar. Quando saímos deste bar para ir para o segundo, o pessoal viu a camioneta a passar e começou a correr para apanhá-la e ir para o tal bar, mas eu disse-lhes que ficava porque não tinha percebido que a Emma também tinha ido para lá. Na altura ainda não tinha o meu tlm americano!! :P Achei que mesmo que não encontrasse a Emma não havia qualquer problema e ia para casa, já que estava tão perto...o pequeno problema é que no caminho para o bar ia entretida a falar com a Emma e não liguei nenhuma ao caminho (o Miguel conhece bem esta minha faceta.. :P). Já que estava tão perto bastava começar a andar e acabaria por dar com a casa - pensei eu. O problema foi começar a andar na direcção errada! Andei, andei, andei, andei...a certa altura já nem sabia ir ter ao bar, quanto mais a casa! Aí estava eu, outra vez a meio da noite, outra vez no meio de uma tempestade de neve, outra vez sozinha, sem taxis e sem pessoas a passar. Nesta altura eu ainda não sabia se Boston era uma cidade segura ou insegura (é segura, acreditem!!!)...feita estúpida ainda não tinha comprado um mapa da cidade...e tinha medo de pedir indicações às poucas pessoas que passavam, porque achei que não seria boa ideia perceberem que estava perdida àquelas horas da noite...e se perguntasse à pessoa errada? Enquanto andava sabe-se lá para onde só pensava "que merda, lá estou sozinha à noite outra vez pela segunda noite seguida, já estou a abusar da sorte, estou mesmo a pedir para começar em grande e ser assaltada". Andei, andei, andei...sempre a pensar: "merda, já sei que vou ser assaltada". Entretanto passou uma mulher (porque é que achamos sempre que as mulheres são honestas e não nos vão assaltar? ;) ), pedi informações e finalmente percebi onde estava e como ir para casa. Vim para casa. No dia seguinte acordei e comprei um mapa! :P

Terceiro: este último é o mais estúpido, porque já foi resultado de excesso de confiança em mim: "eu já domino isto!". Tinha ido a New York uma vez...fui com a Emma, e mais uma vez não prestei atenção nenhuma ao caminho que fiz ou ao funcionamento do metro. Mas claro que fiquei a achar que já dominava New York! Quando foi para ir para Vermont, fiquei de ir ter com o Rui a Newark ao fim da tarde. Mas como já era uma entendida na matéria, acabei por achar que não havia problema em ir mais tarde...parti de Boston tão tarde que quando cheguei a New York era quase meia noite! Saio da camioneta em Chinatown, e...lá estou eu outra vez, de mochila às costas, desta vez sem neve mas...sozinha em New York tarde e a más horas! Ah...e sem fazer a mínima ideia de onde se apanhava o metro e muito menos de como ir ter ao World Trade Center (onde se apanha o path para New York). Vi umas miúdas que também estavam na camioneta e pedi-lhes indicações. Fui com elas até ao metro, saí na mesma estação que elas, e elas deram-me indicações de como ir a pé até ao Ground Zero. Lá fui eu, feita parva, sozinha por ali fora até dar com o Ground Zero, por ruas em que não se via ninguém, e quando se via alguém acreditem que não tinha bom aspecto. Desta vez, com o coração quase em taquicardia, pensava: vais ser assaltada e é muito bem feita, ninguém te manda armares-te em xica-esperta!

Se vcs soubessem como é fácil ir de metro de Chinatown até ao Ground Zero! E que poderia ter feito o caminho a pé pela Brodway, que em Fevereiro à meia noite não tem muito movimento mas sempre tem algum...mas quem gosta de adrenalina faça como eu: ruas esquisitas, e nada de mapa! (mas que raio de aversão tenho eu aos mapas???).

Tirando estas 3 experiências, todas em cidades diferentes para ser mais original...o que poderei acrescentar a tudo o que já fui descrevendo neste blog da minha experiência em Boston?

Que estou a adorar? Isso vocês já sabem...

Que quero cá voltar? Também penso que não é novidade...

Que o Porto é bicampeão? :P Yep, uma novidade que será devidamente celebrada neste blog.

QUE ME SENTI EM CASA. Disto acho que nunca falei. Quando aqui cheguei, senti-me imediatamente "em casa". Tirando as 2 experiências de pânico que descrevi, o que senti desde o dia em que aqui cheguei foi familiaridade, conforto, segurança...a América é diferente da Europa em inúmeras coisas. Mas as diferenças estão nos "detalhes", porque de uma forma geral isto é "igual" à Europa. Digo isto no sentido de ser também aquilo que chamamos de "o Ocidente", ou "a cultura ocidental": aqui as coisas podem ser maiores, em alguns casos mais sofisticadas...mas não deixam de ser parecidas: as mesmas marcas, o mesmo tipo de roupa, os mesmos livros, as mesmas músicas...resultado da americanização da Europa? Resultado da globalização? Provavelmente uma mistura das duas, e talvez seja justo acrescentar a "europeização da américa", uma vez que grande parte dos americanos descendem da Europa. Não sei explicar as razões, mas sei que cheguei aqui e senti-me em casa, e tenho a certeza que não me sentiria assim "em casa" se tivesse ido para a Índia ou para a China ou para algum país do Médio Oriente.

Não há nada mais parecido com a Europa do que os Estados Unidos. E nós odiamos os americanos, mas a verdade é que somos o que de mais parecido com eles existe no mundo!

Seja por similaridades, seja por Boston ser uma "cidade à parte", ou a "cidade mais europeia dos EUA"...seja por ter tido sorte com as amizades que fiz por aqui....

Senti-me em casa! E não foi passado um mês, mas logo desde os primeiros dias! E pensei, como no anúncio: Aqui vou ser feliz! :P

Então qual foi a grande diferença entre o dia 21 de Janeiro e esta segunda partida de Portugal, perguntam vocês?

Há uma coisa que esperava que fosse mais diferente: as saudades. Agora custou-me menos partir, muito menos. Mas estava à espera que não custasse nada, por já estar tão instalada aqui em Boston e por agora faltar menos tempo para estar com todos outra vez. Mas ainda assim custou um bocado. Percebo agora o que os meus amigos daqui me dizem quando referem que "custa sempre".

Outra diferença: agora não é excesso de confiança, eu conheço Boston como a palma da minha mão! E duvido que me perca em New York... ;)

Ontem cheguei, e não me senti em casa: eu ESTOU em casa! Uma casa temporária, é certo. Mas já tenho as minhas rotinas, o meu café, os meus bares, livrarias e lojas de música preferidos....sinto saudades dos meus amigos de cá!

Parafraseando o Mesquita Machado, eu diria que:

É BOM VIVER EM BOSTON!

6 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Linda, que bom ter notícias! Ainda não tinhamos tido relatos teus desde esse regresso... mas compensaste-nos bem com esta longa e aventurosa descrição.
Aproveita mais essa estadia, diverte-te muito com os teus novos amigos e na tua casa - temporária mas tua. E continua a dar-nos novidades (manda-me o número dos picheleiros e construtores please!, sem querer parecer desesperada)... e de preferência... se fores a mais alguma cidade... COMPRA UM MAPA!!!!
Beijão!

4:04 PM  
Anonymous Anonymous said...

Ler esse texto...que nostalgia!!Percebo perfeitamente o que sentes (não em relação a Boston, claro!) Eu posso mesmo dizer que desde que regressei ainda não voltei a sentir-me "em casa" como me senti em Cph...
A grande vantagem é que já apanhaste o "bichinho" e agora nunca mais te vês livre dele! Sim, aquele "bichinho" que te vai atacar quando cá voltares. De vez em quando vai-te dar uma enorme vontade de repetir uma aventura parecida com essa!
E já topaste o tom "de gaja mais velha" com que escrevi este comentário?! lol Com todo o respeitinho pela cota, claro!
Beijo grande, "psi"! E vê se largas essa mania d andar sozinha à noite em ruas esquisitas! ;p
Juízo!***

4:17 PM  
Anonymous Anonymous said...

Ui... que aventuras...
Do lado de cá também se estava muito mal. Não era só o corte do cordão umbilical, era o ver-te partir para o desconhecido absoluto, a angústia de não poder estar por perto se precisasses de mim...os "e se?" incontroláveis que me deixaram literalmente de gatas. Se tinhas demorado mais um pouco a dar notícias ...imagina. Quase desidratei ;-)

10:54 AM  
Blogger Gui said...

ve se conheces isso tudo e vais planeando uns bons passeios para mim, marta e miguel, hem? ;) adoro-te maninha... cuida.te!

8:21 AM  
Blogger jms said...

hahaha, aventuras! Todos as temos, nós os que viajamos. É sempre giro uma experiencia internacional, se bem que a minha foi demasiado profissional para grandes ondas (só mesmo aos fins de semana). Defeitos de estágios remunerados plus relatório final de projecto... Curti milhões quando estive na Alemanha, mas tb sofri muito muitissimo de saudades mais para fim do que no inicio (talvez porque sabia que ia acabar e demasiado para fazer).

Só um comentário ao ódio pelos americanos: eu não odeio os americanos, alias, grande parte, eu adoro-os. A maior parte das bandas de musica que ouço são daí, as séries que vejo são dai, o motor de busca que uso na internet, advinha é daí. No entanto detesto o Bush e a actual politica de EUA como policia do mundo. Mas n se pode ter tudo....

7:49 AM  
Anonymous Anonymous said...

Esse sentimento de estar em casa também foi o nosso (meu e do Carlos). Pergunto-me se, em qualquer país da Europa, o sentimento será igual... e estou convencida que não é. A América é um país construído por emigrantes e, como tal, feito para eles se sentirem em casa... com umas aventuras pelo meio, é claro. Também passámos por experiências parecidas, como perder o nosso contacto no aeroporto e termos de alugar um carro para ir para Amherst logo no dia da nossa chegada, etc.

Diverte-te e aproveita bem,

Pilar

5:33 PM  

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